HISTÓRIA DE UBERABA
Dom José Pedro Costa
Arcebispo Ad. Apostólico

Fosse a História uma simples feira de mentiras, e os historiadores já estariam marginalizados na estrada larga do gênio e da cultura. E teriam razão os pessimistas: "A História é uma narração, quase sempre mentirosa, de fatos quase sempre insignificantes, realizados por governantes quase sempre marotos e por soldados quase sempre imbecis" (A. Bierce). Mas, felizmente, a História continua sendo o cofre forte da lembrança humana e aquilo com que Cervantes a definiu: "êmula do tempo, depósito de ações, testemunho do passado, exemplo do presente, advertência do futuro".
Seu objetivo não é apenas deleitar com a crônica de êxitos ou fracassos já esmaecidos no crepúsculo das eras, mas transformá-los em lições eficazes para os contemporâneos e para os vindouros. Oliveira Martins formulou isso no seu inconfundível estilo: "Uma grande curva descrita no espaço, eis o que é a História, rastro luminoso do mais brilhante dos planetas: o homem". E o Marquês de Maricá acrescentou: "A História é a biografia da espécie humana".
Por isso, cada época deve ter os seus historiadores, cada continente, cada país, cada cidade, cada crença, cada civilização, até mesmo cada comunidade maior ou menor, também para que seja possível a história universal. Que seria da Grécia sem Plutarco, de Roma sem Tácito, da França sem Thiers? Seriam o que Uberaba seria, se não tivesse tido servidores competentes, dedicados e produtivos como Hildebrando Pontes, Borges Sampaio, José Mendonça e alguns poucos mais.
E é exatamente por isso que a Academia de Letras do Triângulo Mineiro e a Bolsa de Publicações do Município de Uberaba estão de parabéns por estarem editando ou reeditando as obras desses beneméritos historiadores locais. Recentemente foi lançada mais uma dessas obras. Trata-se da "HISTÓRIA DE UBERABA", DE AUTORIA DO CRITERIOSO E DENODADO PESQUISADOR José Mendonça. Por ocasião do primeiro centenário da cidade de Uberaba, em 1956, o autor publicou nas páginas do Jornal "Lavoura e Comércio' uma série de artigos sob a epígrafe "Capítulos de nossa história". É o conjunto dessas preciosas publicações que agora vem de novo a lume, sob a denominação de "História de Uberaba", acompanhada de notas esclarecedoras e atualizantes, tudo em um alentado volume de 296 páginas em cujo trabalho tipográfico a Editora Artes Gráficas Ltda reiterou as demonstrações da sua capacidade técnica.
Nossa comunidade uberabense passa a dispor de mais um manancial de informações seguras, pormenorizadas e enobrecedoras sobre o seu passado. Não só a comunidade uberabense, mas a de todo o vasto Triângulo Mineiro. Em linguagem correta, elegante e apropriada, todos agora dispomos de um repositório de fatos aqui acontecidos antes de nós, quando nossos avoengos iniciaram por esta terra e por esta gente triangulina e uberabense um amor e um empenho cívicos que agora nos cabe perpetuar, transmitindo-os às gerações de amanhã.
Nem toda cidade tem a riqueza de um tesouro histórico como este com que José Mendonça nos presenteou, granjeando um direito inequívoco a nossa gratidão. Nosso passado religioso e cívico, político e publicitário, cultural e pedagógico, assistencial e artístico, esportivo e folclórico, pecuário e agrícola, todo ele se acha retratado com fidelidade nos 29 capítulos desse rico documentário histórico. Além disso, a primorosa edição traz um índice onomástico muito oportuno e útil, organizado por Mário Edson Andrade e Carlos R. L. Mendonça.
Li, com atenção e enlevo, o livro todinho, página por página. Foi para mim um verdadeiro mergulho nos tempos idos desta cidade e região em que Deus me mandou trabalhar e em que, antes de mim, dom Eduardo, Dom Lustosa, Dom Luis Santana e Dom Alexandre trabalharam melhor do que eu. Fiquei ciente do muito que por Uberaba fizeram os meus venerandos antecessores e vários sacerdotes que cuidaram desta comunidade uberabense que o Sargento-Mor Antonio Eustáquio da Silva e Oliveira plantou nos albores do século 19. E estou certo de que a mesma satisfação que tiveram a minha curiosidade e o meu interesse de arcebispo será experimentada por qualquer uberabense ou amigo de Uberaba, por qualquer classe social, família, partido ou entidade que foram buscar na "História de Uberaba" informações exatas sobre o seu passado. Que preciosidade! Se o Marquês de Maricá fosse vivo, diria que o livro de José Mendonça é a biografia de Uberaba. E teria dito uma grande verdade.

"Jornal da Manhã", 22 de junho de 1974

Atitude uberabense

Cresce na cidade, mormente nos seus círculos cultos, o interesse pelas cousas de Uberaba. Fato típico do que dizemos está expresso, de modo eloqüente, no sucesso de livraria alcançado pelas obras de Hildebrando Pontes, Borges Sampaio e mais recentemente de José Mendonça sobre o passado dessa comunidade.
Os livros editados pela Academia de Letras do Triângulo Mineiro encontraram uma receptividade incomum, esgotando-se os exemplares em poucos dias.
É óbvio que esse interesse pelas obras de nossos historiadores define um interesse mais alto: - pela própria cidade, no que ela tem de mais expressivo na sua civilização e cultura, no seu progresso e prosperidade alicerçados principalmente na pecuária.
Na sua história de Uberaba, o dr. José Mendonça dedicou um capitulo especial à chamada "Epopéia do Zebu", mostrando em linhas gerais, com admirável espírito de síntese, o que foi o esforço uberabense para adquirir na Índia e introduzir neste país os primeiros exemplares zebuínos que deram solidez e amplitude à industria pastoril brasileira.
Os três livros, que refletem nas suas páginas inteligência, cultura, senso de pesquisa e compreensão pelas realizações do que nos antecederam na vida, representam um farto e precioso material na reconstrução do passado uberabense, escrito com verdadeira consciência histórica e também com profunda sensibilidade.
É que os autores foram autênticos uberabenses (um não nasceu em Uberaba, mas elegeu esta cidade para sua residência e exercício de atividades constantes e fecundas que se estenderam por mais de 60 anos) que consideram com notável compreensão e amor o que fizeram seus conterrâneos e outras personalidades que emprestaram seu concurso a esta comunidade para fazê-la cada vez maior e mais importante no panorama mineiro e brasileiro.
A atitude uberabense, de crescente interesse pelas cousas de sua cidade, deve se manifestar também no setor econômico, através de um prestígio entusiástico a sua indústria, a produtos aqui manufaturados.
É indispensável uma atitude de integral apoio a tudo o que é de Uberaba, quer seja no campo cultura, prestigiando-se as promoções de nossa Academia de Letras, como no caso do lançamento dos três livros a que mencionamos acima, quer em qualquer empreendimento que visa ao progresso desta cidade e a prosperidade de seus filhos.
Uberaba, cidade de um notável passado e com brilhante tradição cultural e cívica, é também a progressista cidade do presente e do futuro. É cidade de ontem, de hoje e amanhã.

Jornal "Lavoura e Comércio", 02 de julho de 1974

Extraordinária repercussão

É com satisfação que fazemos este registro: - de Bremen, na Alemanha, foram solicitados à Academia de Letras do Triângulo Mineiro, exemplares da "História de Uberaba", de José Mendonça. Nós, que conhecemos o carinhoso interesse que o autor dedicava a sua obra, realizando-a com entusiasmo permanente e firme propósito de levar para suas páginas os acontecimentos importantes desta cidade, sabemos o que essa notícia significaria para o saudoso colaborador e amigo.
Durante anos a fio, com verdadeiro espírito de pesquisa, José Mendonça preparou o livro. Não obstante as suas múltiplas atividades como advogado, jornalista e professor, o dr. José Mendonça conseguia, desenvolvendo esforço intenso e constante, enriquecer nossas letras com um livro que reconstitui, com segurança, o passado de Uberaba.
Com 162 anos de existência (Uberaba foi fundada em 1812 e elevada à categoria de cidade em 1855), esta comunidade teve historiadores que merecem nosso respeito e gratidão: - Borges Sampaio, Hildebrando Pontes, Gabriel Toti e José Mendonça. São quatro nomes que deram à cultura uberabense, nesse setor, contribuição das mais relevantes.
Lançado depois de seu falecimento, numa promoção por todos os títulos louvável da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, o livro de José Mendonça fez curso rápido na admiração de seus eleitores, desta cidade e de outras regiões do país.
O pedido de exemplares, procedente de Bremen, na Alemanha, representa outra afirmação eloqüente do sucesso de uma obra elaborada com nítida consciência cultural e autêntico respeito pelo passado, pelo que ele encerra de experiência e sugestão para o presente e o futuro. É com satisfação, repetimos, que assinalamos tão expressiva vitória de nosso saudoso amigo José Mendonça, de seu esforço conduzido com tanta inteligência e firmeza.

Jornal "Lavoura e Comércio", 04 de janeiro de 1975