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Discursos/Pronunciamentos
Discurso pronunciado por José Mendonça, em 15 de agosto de 1937, por ocasião das festas comemorativas do jubileu quadragenário de iniciação literária do Sr. Dr. Hildebrando Pontes.
"Prezado Dr. Hildebrando Pontes,
Minhas Senhoras, Meus Senhores.
As festas que, hoje, se realizam com tanta alegria e com tanto entusiasmo não são apenas a consagração da vida luminosa, dos méritos excepcionais, dos trabalhos fecundos do Dr. Hildebrando Pontes.
São, também, uma prova do grau de civilização e de cultura que já atingiu o povo de Uberaba.
— 'Os homens ilustres, disse Carlyle, são a viva fonte de luz, junto da qual é bom e agradável aproximarmo-nos; são a luz que ilumina e que tem iluminado a escuridão do mundo; são, por assim dizer, um brilhante foco de visão nativa e original da masculinidade e nobreza heroicas. A História Universal, a História do que o homem completou no mundo é, na realidade, a História dos grandes homens que trabalharam na terra. Eles foram e são os condutores, os modeladores, os padrões e, num largo sentido, os criadores de tudo o que a massa geral dos homens procurou fazer ou atingir.'
Aquele que compreende e sente a obra de arte oferece a mais linda demonstração da amplitude do seu saber, da finura da sua inteligência, da delicadeza dos seus sentimentos.
Assim, o povo que sabe admirar e amar os seus homens ilustres, que entende a obra dos seus grandes homens e por ela se deixa empolgar, que a cultua e que a venera, evidencia a superioridade da sua intelectualidade, da sua emotividade, do seu idealismo.
Por isso, como disse no começo, os uberabenses, exaltando, hoje, a personalidade e a vida do Dr. Hildebrando Pontes, um dos seus homens mais ilustres, um dos homens que mais têm feito pela elevação do nome de Uberaba, demonstram o seu próprio adiantamento intelectual e moral, a grandeza da sua própria alma, do seu próprio espírito.
Quarenta anos de imprensa, quarenta anos de vida literária, quarenta anos de investigações e de pacientes pesquisas, quarenta anos de predicações e de ensinamentos formam uma coroa fulgente de glórias puríssimas a aureolar a fronte de Hildebrando Pontes, a consagrar-lhe a existência utilíssima, a ungi-lo como um dos pioneiros do nosso progresso, de nossa civilização.
— 'A imprensa, escreveu Mário Pinto Serva, é a emanação, é a representação, a exposição da vida nacional. Ela exterioriza tudo o que se passa no espírito público, ela é quase o cérebro do organismo coletivo, porque ela é que elabora a opinião pública, pela reação das opiniões individuais. Numa sociedade cuja evolução se processa normalmente, numa sociedade que se norteia em rumo firme para o futuro, numa sociedade que quer progredir e trabalha energicamente para isso, a imprensa constitui uma força moral orientando seguramente os povos no caminho do bem, da justiça, do desenvolvimento coletivo. Assim, a imprensa é quase o cérebro coletivo, preenchendo a função de elaborar o pensamento nacional. Um país orienta-se pelo que lê'.
O homem de imprensa tem, por isso, um dos mais sublimes apostolados humanos e, ao mesmo tempo, uma das mais graves responsabilidades deste mundo.
Para que ele não atraiçoe a sua missão, para que ele não transforme em meios de destruição, de corrupção, de desolações e de ruínas, de envenenamento da moral e da inteligência coletiva os dons e as armas que Deus lhe confiou, é preciso que ele só tenha os olhos voltados para o bem, que só se oriente pelos princípios da verdade e da justiça, que saiba colocar-se acima das paixões inferiores que agitam e dividem os homens, que se transforme em paladino de todas as causas boas.
Vós, Sr. Hildebrando Pontes, tendes sido o tipo perfeito do bom, do verdadeiro jornalista.
Nunca a vossa pena se transformou no punhal do sicário, nunca feriu, nunca fraudou, nunca, direta ou indiretamente, levou o mal a quem quer que seja.
Ao contrário, ensinando, doutrinando, manifestando-se tão somente de acordo com os ditames da sã consciência e do patriotismo, ela se volta exclusivamente aos interesses públicos, desdobra-se em benefícios, faz esplender a beleza, anima, consola, conforta, encanta, encoraja, entusiasma.
E quantos sacrifícios, quantos trabalhos, quanta luta, quantas renúncias, quanto sofrimento para atingir essa nobilíssima finalidade!
Mas, de outro lado, quantos espíritos tendes iluminado, a quantos tendes indicado o caminho da verdade, quantas almas tendes consolado e deleitado, quanta justiça praticada, quanto bem realizado!
Podeis com carinho e doçura, repetir, no íntimo da vossa alma, os versos de Bilac:
'Penso às vezes nos sonhos, nos amores
que inflamei à distância pelo espaço;
Penso nas ilusões do meu regaço
Levadas pelo vento a alheias dores.
Penso na multidão dos sofredores
Que uma bênção tiveram do meu braço;
Talvez algum repouso ao seu cansaço
Talvez ao seu deserto algumas flores...'
Uberaba, neste dia, vos abençoa pela vossa atividade jornalística, pelos frutos de ouro que o povo colhe das messes e das searas opimas que fazeis crescer, das fecundas sementeiras que tendes espalhado.
Mas, nesta hora, é preciso que também consideremos o vosso admirável, o vosso preclaro trabalho como historiador. Se 'A História é a Mestra da vida', como disse Cícero, se 'os vivos são cada vez mais governados pelos mortos', como ensinou Augusto Comte, se para conquistarmos o futuro precisamos dos impulsos ancestrais, se todo povo tem o dever de cultuar e de honrar as suas tradições, a vossa obra como historiador é das mais meritórias, é das que conquistam toda a veneração de nossa gente. E há de perpetuar-se, para a glória cada vez maior do vosso nome, vivendo eterna, inseparável de Uberaba e dos uberabenses, porque nenhuma coletividade pode esquecer ou deslustrar o seu passado.
Nesses ramos da vossa atividade, ocupais um lugar de inconfundível destaque entre os nossos intelectuais.
A vossa inteligência, lançando raios cintilantes de luz investigadora sobre a vida, sobre os homens e sobre as coisas dos tempos 'já idos e vividos'; reunindo fatos palpitantes da vida real; analisando, mostrando o sentido do progresso; realçando os feitos dos nossos ancestrais; evocando episódios já quase deslembrados; reconstituindo vistas e aspectos já desaparecidos da cidade velha, traçando biografias; gizando perfis; contando os hábitos, os costumes e as próprias abusões do povo; revelando a psicologia, as crenças, os ideais e os pendores da nossa gente, criou, no Brasil central, um monumento incomparável de beleza e de justiça, de exaltação do valor do nosso povo, monumento que, como o de Horácio, há de ser mais duradouro que o bronze e há de ser o indestrutível e majestoso pedestal da vossa glória.
Os vossos livros 'Município de Uberaba', "Dialeto Capiau", as vossas genealogias, as vossas biografias, os vossos perfis, as vossas narrativas, as vossas análises, os vossos estudos sobre o nosso folclore e sobre a nossa Mitologia hão de ser, no futuro, trabalhos clássicos, fontes puríssimas de saber que todos procurarão.
Por mais de uma vez, fiz sentir aos Prefeitos Interventores de Uberaba a necessidade e a obrigação que tem a Prefeitura de mandar imprimir o vosso livro 'Município de Uberaba', obra completa sobre a nossa pré-história, sobre a nossa história, sobre a nossa corografia, sobre as nossas realizações.
Nem compreendo como o município, até hoje, ainda não mandou fazer essa publicação.
Aqui, renovo o meu apelo aos dignos vereadores de Uberaba e ao Sr. Dr. Whady José Nassif, ilustrado Prefeito do município, para que não demorem em prestar à nossa terra esse grande benefício.
Para nós, uberabenses, tendes, ainda, Dr. Hildebrando Pontes, o encanto do vosso amor a Uberaba, da vossa dedicação a Uberaba, do vosso carinho para com Uberaba.
Pouca gente tenho visto que queira tanto a sua terra, como vós amais Uberaba.
Viveis para o ideal uberabense, procurando sempre tornar Uberaba mais gloriosa e mais bela.
Viveis, certamente, dizendo, no recesso do vosso coração, a Uberaba e aos uberabenses, palavras como estas, que o Poeta excelso dirigiu aos seus amigos de São Paulo:
'Se amo, padeço e sonho, a recompensa
É a melhor que me dais, neste agasalho:
Desta ternura sobre mim suspensa,
Desce todo o valor do quanto valho.
Não tenho aroma que vos não pertença;
Vem de vós a doçura e o bem que espalho;
Valemos todos pela nossa crença,
Na comunhão do amor e do trabalho.
Operário modesto, abelha pobre,
De vós e para vós o mel fabrico,
E abençoo a colmeia que nos cobre.
Só do labor geral me glorifico:
Por ser da minha gente é que sou nobre,
Por ser da minha terra é que sou rico'.
Uberaba, comovida, Sr. Dr. Hildebrando Pontes, lança sobre os vossos cabelos brancos as mais lindas flores da sua gratidão, da sua admiração, da sua estima, do seu afeto, do seu amor."
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