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Diversas Facetas
O Advogado e o Jurista
A vocação para o direito foi um dos seus mais evidentes e gloriosos característicos. Só compreendia a vida nacional, sua cultura, a civilização e mesmo a existência de cada ser, sob a égide do Direito.
Sua vida foi testemunho de que o Direito é impulso interior, força espiritual, energia moral que orienta, ilumina, inspira e conduz.
Iniciou sua carreira de advogado na cidade do Prata (MG), onde esteve cerca de quatro anos, morando com o seu querido tio, o padrinho Emídio Marques Ferreira, que lhe cedeu o seu escritório.
Transferiu-se para Uberaba, em 1930. Foi autêntico líder na advocacia, distinguindo-se de modo especial no ramo cível, sendo o seu escritório um dos mais procurados do Brasil Central.
Dotado de profunda afetividade por seus semelhantes, o advogado defendia, com igual interesse e dedicação, os que podiam remunerá-lo e os que careciam de recursos para pagamento de honorários.
Era advogado no sentido mais intenso e abrangente da palavra. Seu modo de ser era tipicamente o de advogado, seja sob o aspecto profissional básico, na advocacia militante, forense, nos trabalhos e estudos doutrinários, no jornalismo, no magistério, na pesquisa, na busca de informações, na oratória, no cultivo de letras e, de um modo muito especial, no estudo e nos trabalhos sobre os grandes temas sociais e do pensamento.
Prestou seus sensatos pareceres às questões da justiça, empolgado na sua consciência jurídica. Jamais exerceu o direito abstrato ou unilateral, baseado no interesse de uma nação, de uma classe, de um partido, de uma raça, de um continente, mas exerceu o Direito baseado nas exigências substanciais e perenes da justiça universal, dessa justiça que impede a exploração do homem pelo homem, das classes oprimidas pelas classes dominantes, dos esquecidos pelos privilegiados.
Assim escreveu: "Sem ordem moral, não pode haver ordem jurídica, e, sem ordem jurídica, não pode haver ordem social."
O Professor
Como professor, foi valoroso soldado da Pátria, porque lutou, diariamente, o combate formidável de resgatar os brasileiros do obscurantismo, tornando-os capazes de cooperar no esforço ingente pelo progresso nacional.
Ele muito amou para bem ensinar. Transmitiu aos outros alguma coisa do seu próprio ser, mostrando que a civilização não é poderio material, mas religião, direito, justiça, moral e liberdade.
Mestre otimista, cada manhã esquecia a rotina da véspera e palmilhava o mesmo caminho como se o visse pela primeira vez, afirmando, dia a dia, a sua fé na mocidade.
Recebia pacientemente em sua própria casa os alunos que buscavam, preocupados, esclarecimentos complementares. Foi incontáveis vezes paraninfo e seus discursos eram verdadeiras lições de vida.
Foi professor de Literatura e Português na Escola Apostólica dos padres dominicanos; História da Civilização e História do Brasil, na antiga Escola Normal, dirigida pelo professor Fernando do Magalhães; Português e Literatura, na Escola Normal Oficial de Uberaba, hoje Escola Estadual Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco; Literatura Brasileira e História Antiga e Medieval, na Faculdade de Filosofia Santo Tomás de Aquino; Direito Civil, na Faculdade de Direito do Triângulo Mineiro, onde lecionou também Ciência das Finanças.
O Historiador
Se todo povo tem o dever de cultuar e de honrar as suas tradições, sua obra como historiador foi das mais meritórias entre as que conquistaram a veneração de sua gente.
Amava intensamente a sua terra, Uberaba, e por ela e sua gente deu o melhor de si.
Distinguiu-se com seus "Capítulos de Nossa História", verdadeira reconstituição da história de Uberaba, publicados através das colunas do jornal Lavoura e Comércio, por ocasião do centenário dessa cidade.
Atribuíram-lhe, por esse mister, o título de "O Cronista do Centenário", exaltando-lhe o critério e o bom senso, a segurança das fontes, o valor informativo, a inteligência com que conduziu o trabalho, a fluência e a elegância de estilo.
Publicou, como historiador, "O Centenário do Município de Uberaba", em 1936, a história da "Santa Casa de Misericórdia de Uberaba", em 1949, "Capítulos da nossa História", em 1956, o "Visconde de Taunay e o Triângulo Mineiro de 1865", em 1964.
O Jornalista
Iniciou sua carreira de jornalistao, em 1927, sendo redator da "Cidade do Prata", de propriedade de seu bom e caríssimo amigo Cel. Garibaldi de Castro Melo, então deputado federal.
Transferindo-se posteriormente para Uberaba, continuou por muitos anos colaborando para a "Cidade do Prata". Também, desde 1927, escreveu durante quarenta anos, semanalmente, no jornal "Lavoura e Comércio", de seu dileto e carinhoso amigo Quintiliano Jardim.
Publicou cerca de mil e quinhentos artigos escritos na imprensa local e regional, abordando temas variados - sociais, econômicos, políticos, filosóficos, científicos, artísticos, jurídicos, literários, gramaticais, religiosos, financeiros, históricos, administrativos, assistenciais, humanitários, educacionais, biográficos e outros - sempre fugindo de colocações meramente práticas, personalistas e imediatistas das questões analisadas em favor de observações genéricas, de afirmação de conceitos e valores permanentes, o que confere a esses artigos, mesmo aos mais antigos e de objeto restrito, uma atualidade permanente.
Denotou espírito de pesquisa e segura indagação da verdade durante os quarenta anos que emprestou seu concurso à imprensa, valorizando-a com seu trabalho apresentado em linguagem escorreita e animado de consciência cultural.
O Crítico Literário
O ilustre uberabense teve na palavra que cultivou com esmero e brilho um instrumento de comunicação, também como crítico literário.
Não foram poucos os escritores que enviaram a José Mendonça os rascunhos de seus trabalhos, para que fossem submetidos a sua inteligente apreciação.
Comentava os lançamentos literários não só da cidade, mas da região e do Brasil.
O Escritor
À enorme afetividade, juntava um interesse sem limites pelas questões intelectuais, consubstanciando em uma produção das mais vastas e diversificadas.
Em 1937, pela Editora A. Coelho Branco Filho, Rio de Janeiro, publicou "Ação Nacional", um autêntico hino de amor ao seu país, onde estuda, investiga e analisa os mais graves e complexos problemas da nação, tais como a necessidade de planejamento, o ensino técnico profissional, a mentalidade política dominante, o ruralismo, as indústrias fictícias, o transporte, as alfândegas internas, o crédito, o problema étnico, a imigração, a devastação das matas, o saneamento, a intelectualidade negativa e outros, indicando caminhos seguros para resolvê-los.
Em 1940, pela editora Jacintho, Rio de Janeiro, publicou "A Prova Civil", estudo dos capítulos do Código Civil e do Código de Processo Civil, sobre os meios de prova e a sua produção, tecendo comentários e chegando a conclusões, à luz de farta doutrina e jurisprudência.
Além dos mil e quinhentos artigos publicados na imprensa local e regional, escreveu a "História de Uberaba", paciente e minucioso trabalho de pesquisa, de reconstrução da vida desta cidade sob todos os aspectos, desde a sua formação, o que mereceu na Nota Editorial a correta observação de que "analisou fatos, foi às fontes em busca de confirmação de datas e acontecimentos, reagrupou novos fatos, deu-lhes tratamento especial e observou-os à luz da sociologia e da História". Este livro foi publicado pela Academia de Letras do Triângulo Mineiro, em 1974, seis anos após sua morte.
Escreveu, ao longo de sua vida, um sem número de palestras, conferências, discursos e poemas, tudo exteriorizando uma atividade intelectual intensa, profunda e extremamente séria, calcada em uma biblioteca particular, toda lida e anotada, de mais de quatro mil volumes, motivada por uma sede contagiante de conhecimento e orientada por uma reflexão incessante e comovedoramente honesta.
Esse desenvolvimento, esse aprimoramento conjugado e simultâneo dos sentimentos e da mente fizeram dele uma personalidade invulgar, que se impunha pela bondade e pela cultura, que se fazia respeitado pela simplicidade e pelo saber.
O Esportivo
Quando jovem, foi atleta amador do Uberaba Sport Club (U.S.C.), de cuja diretoria chegou também a participar. Integrou, também, por diversas vezes, as diretorias do Uberaba Tênis Clube e do Jockey Club de Uberaba.
Sempre acompanhou, com interesse, as campanhas esportivas do U.S.C. e do Clube de Regatas do Flamengo, clubes de seu coração.
O Religioso
Soube viver, como poucos, as bem-aventuranças. Católico de profunda convicção, sempre demonstrou com a vida a coerência de sua fé.
Sua casa foi também a casa dos sacerdotes, especialmente dos dominicanos, dos quais foi amigo particular.
Pertenceu à Irmandade do Santíssimo Sacramento e foi enterrado com a opa. Devoto de N. Sra. do Carmo e do Rosário. Rezava todos os dias o terço e, por ocasião do levantamento da imagem de Nossa Senhora na frente do Carmelo Eucarístico de Jesus, pronunciou um dos seus mais belos discursos.
Dos inúmeros títulos que recebeu, o de "Advogado de N. Sra. do Carmo" foi o que realmente o enobreceu, pois, arquivando todos os outros, manteve este sempre na parede de seu escritório, em lugar de destaque.
Verdadeiro Cristão, homem de grande vida interior, espírito ecumênico e aberto, nunca abusou dos amigos e de suas crenças. Ao contrário, admirava-os e estudava a fundo todas as religiões. Recusou, apenas, o que pudesse afetar a paz e a sabedoria tão tranquilas que trazia dentro de si - reflexo do próprio Espírito Santo de Deus que nele encontrou morada.
O Filantrópico
Tinha a preocupação de, dentro das limitações de seus recursos, auxiliar as instituições filantrópicas da cidade, como o asilo Santo Antônio, o Hospital da Criança, o Instituto dos Cegos do Brasil Central, o Abrigo de Menores, o Orfanato Santo Eduardo, o Lar Espírita e outros.
Mas a sua colaboração, para a melhora dos necessitados, não se restringia a auxílios pecuniários, nem a serviços jurídicos gratuitamente prestados. Ia muito além, pois frequentemente visitava essas instituições, conversando amistosamente e com demora com os internos, incutindo-lhes otimismo e esperança, procurando convencer a todos que, mesmo com as suas limitações, poderiam produzir e ser úteis de alguma forma, com o que cada um se sentia mais confortado e encorajado para enfrentar as vicissitudes.
O Político
Nunca teve cores partidárias, mas sempre participou ativamente, pela imprensa, de debate em torno dos grandes temas políticos do país, fazendo críticas construtivas, sugerindo caminhos, apontando direções.
O Musical
Era dotado de grande sensibilidade musical e possuía sólidos conhecimentos da História da Música.
Não tocava nenhum instrumento, mas era ouvinte atento e exigente de todos os gêneros musicais, eruditos ou populares.
Identificava-se, de modo especial, com produções dos períodos romântico e barroco.
Ouvir música, para ele, era mais do que um simples deleite, já que sua ampla cultura estática o tornava extremamente receptivo e sensível a todas as formas de manifestações artísticas.
Apoiou sempre, com grande entusiasmo todas as iniciativas tomadas em Uberaba, em favor da formação musical e das apresentações artísticas, como da criação do então conservatório Musical de Uberaba, hoje Conservatório Estadual Renato Frateschi e do Instituto Musical Uberabense.
Casado com exímia pianista, tudo fez para despertar e aprimorar, nos filhos, o gosto pela boa música.
O Servidor da Comunidade
Verdadeiro gigante na sua capacidade de ação, fez sentir a sua presença atuante nos mais diversos setores da comunidade:
Desde 1932, ano de sua criação, fez parte da Diretoria da sub-seção da Ordem dos Advogados do Brasil, tendo ocupado todos os seus cargos, inclusive o de presidente, por três vezes;
Secretário do Asilo Santo Antônio por trinta e cinco anos;
Diretor, durante vários anos, do Uberaba Tênis Clube e presidente do Conselho Deliberativo do Jockey Club de Uberaba;
Encarregado do Departamento Jurídico do Banco do Triângulo Mineiro;
Diretor Secretário da Empresa Telefônica de Uberaba;
Provedor da Irmandade do Santíssimo Sacramento, de São Domingos;
Presidente de honra do Clube Recreativo e Cultural Uberabense;
Fundador e presidente de honra da Associação dos Antigos alunos do Colégio Diocesano;
Membro suplente do Conselho Fiscal da Cia. Têxtil do Triângulo Mineiro;
Membro da Associação Brasileira de Imprensa e da Sociedade dos Homens de Letras do Brasil;
Sócio fundador do Rotary Clube de Uberaba, do qual foi presidente;
Conselheiro da Santa Casa de Misericórdia de Uberaba;
Professor da Escola Apostólica dos padres dominicanos, da Escola Normal Oficial de Uberaba, da Faculdade de Filosofia Santo Tomás de Aquino e da Faculdade de Direito do Triângulo Mineiro;
Idealizador, fundador e primeiro presidente, cargo que ocupou até morrer, da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.
Sua participação efetiva se fez sentir na vida de todas as instituições e empresas ligadas ao progresso de Uberaba.
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